Retorno ao ventremynh fi nugror to vesikã kãti de Jr Bellé
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Conversamos com Jr. Bellé, autor do livro de poesia Retorno ao ventre (2024, 168 páginas). Trata-se de um livro bilíngue português-kaingang. A versão em kaingang é de André Luís Caetano e se intitula mynh fi nugror to vesikã kãti . O livro foi publicado pela editora Elefante/SP. Texto de orelha de Eliane Potiguara e capa com ilustração de Moara Tupinambá. O livro foi vencedor do Prêmio Cidade de Belo Horizonte 2023. • Retorno ao ventre combina memória familiar e pesquisa histórica, resgatando do esquecimento o passado e a ancestralidade. De um lado, um drama familiar e a reconstituição de uma identidade pessoal, de outro, uma visada crítica sobre o genocídio de povos indígenas do Sul do Brasil, em especial a partir da primeira expedição militar da República brasileira à região, na conhecida marcha para o oeste . Tratou-se ali não só da ocupação de um território e de um genocídio, mas também da escrita da história invisibilizando os povos indígenas em nome de uma identidade paranaense que seria constituída apenas por descendentes de europeus. • Jr. Bellé nasceu em Francisco Beltrão, sudoeste do Paraná. É mestre em estudos culturais (EACH-USP) e doutorando em estudos literários (PPGL-UFPR). Foi escritor residente da Yaddo, em Saratoga Springs, Nova York, contemplado com a bolsa Abigail Angell Canfield and Cass Canfield Jr. Residency for Writers; e do Art Farm, em Marquette, Nebraska, onde escreveu seu primeiro livro, “Trato de Levante” (Patuá). A obra teve seus direitos vendidos para o cinema, e foi exibida em festivais de poesia e cinema, como Queensland Poetry Festival, na Austrália, e Mammoth Lakes Film Festival, nos Estados Unidos. Publicou ainda a coleção de poemas “amorte chama semhora” (Patuá) e venceu o Prêmio Flipoços de poesia. Com seu primeiro romance, “Mesmo sem saber pra onde” (Folheando), venceu o Prêmio Variações de Literatura e recebeu menção honrosa no Prêmio Casa de las Américas, em Havana, Cuba. Com seu mais recente livro, “Retorno ao ventre”, venceu o Prêmio Cidade de Belo Horizonte. • Na conversa, Jr. Bellé falou inicialmente dos seus livros anteriores, mais marcados por investigações erótico-políticas. Perguntado sobre a opção pela poesia em Retorno ao ventre , um livro com forte presença da pesquisa histórica e de um andamento narrativo, Bellé refletiu sobre o lugar da poesia no seu percurso literário e da opção que tomou para o livro: Eu uso ferramentas da prosa, do jornalismo e da pesquisa para escrever poesia . Para o poeta, o livro lida com narração, pesquisa, diálogo e memória (inclusive tendo o Alzheimer como personagem oculta, metáfora de uma memória que se perde). Como trata de um tema doloroso, Bellé enfatizou o cuidado e o respeito com a cultura kaingang. O autor também falou de como a revisão de termos da língua kaingang conduziu à ideia de tradução do livro, realizada por André Luís Caetano, liderança da etnia e professor de kaingang. Bellé revelou a dificuldade inicial de encontrar uma voz narrativa e contou como a obtenção dessa voz permitiu que a linha narrativa ficasse mais espontânea. Para o poeta, a escrita de si e a recuperação de uma memória familiar foi essencial para aproximar o livro do lugar do afeto e da invenção. Bellé tratou da identidade paranaense, às voltas com a invisibilização dos povos indígenas. A pesquisa para o livro foi feita em arquivos e em teses e dissertações e buscou situar o momento fundador daquele obscurecimento dos povos originários, em particular do centro e do oeste do Paraná. Jr. Bellé também tratou dos cuidados éticos necessários à arte que quer falar a favor do outro . Ele destacou a importância da arte como construtora da memória. O autor discutiu aspectos históricos da colonização estatal do Paraná, fazendo a crítica da invisibilização dos povos autóctones. Após discutir a missão social da poesia, Jr. Bellé leu um trecho de Retorno ao ventre . Foi uma conversa ótima! • O livro pode ser adquirido nas livrarias e pelo link https://editoraelefante.com.br/produt...
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